Trabalho remoto em casa suscita novos problemas
O trabalho em casa foi estratégia adotada por 46% das empresas durante a pandemia, segundo a Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise covid-19. O estudo elaborado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) coletou, em abril, dados de 139 pequenas, médias e grandes empresas que atuam em todo o Brasil. Mas há quem diga que o trabalho remoto em casa suscita novos problemas.
Conexão ruim com a internet, computador pessoal inadequado, cadeira desconfortável, controle acentuadodos superiores, dificuldade de realizar as mesmas tarefas longe do escritório, isolamento, burn-out. A listade consequências negativas do trabalho remoto é longa e pode levar as empresas a ter de enfrentar umaonda de processos trabalhistas nos próximos anos.
Nos países europeus, a pandemia subitamente multiplicou por dois, três ou até quatro vezes o número depessoas trabalhando em casa. A emergência sanitária fez com que essa transição, embora prevista emacordos sociais em vigor no bloco há mais de 10 anos, fosse feita de maneira bastante improvisada,observa o pesquisador Christophe Desfreys, do Instituto Sindical Europeu, de Bruxelas.
“Sei que de tal a tal hora, não poderei ter nenhuma reunião porque preciso dar comida para as minhasfilhas. No entanto, às 23h ou à meia-noite, ainda estarei conectada porque ainda tenho trabalho parafinalizar depois que as meninas foram dormir”, diz a francesa. “A vida profissional e a pessoal estãocompletamente misturadas. Às vezes, quando vejo, ainda estou enviando e-mails às 2h da manhã.”
Do ponto de vista financeiro, frisa o pesquisador belga, a generalização do home office representa umafonte considerável de economias para as empresas. “Em algumas delas, o número de escritórios nãocorrespondia mais ao número empregados. Já havia uma vontade de diminuir o espaço físico e estimularque os funcionários trabalhassem mais de casa, principalmente nas empresas de tecnologia”, pontuaDegryse. “Ou seja, haverá uma redução de custos que vai acabar sobrando para o funcionário,indiretamente.”
Em um balanço provisório da adaptação das companhias ao trabalho remoto em grande escala, o sindicatopatronal da França, Medef, avaliou que, embora as empresas estejam prontas para ampliar essa prática etorná-la mais perene, a presença física ainda se mostra indispensável na maioria dos setores. A entidadepontua a “riqueza” da interação social com os colegas, tanto em termos de produtividade quanto desatisfação profissional.Christophe Degryse destaca que, durante a pandemia, em muitos casos as trocas se limitaram aoestritamente necessário, com impacto na coesão da equipe. “Poderiam pensar um lugar virtual de máquinade café onde os colegas poderiam se encontrar para conversar sobre outras coisas, como o último filmeque assistiram ou como foi o fim de semana. São interações sociais importantes para criar o espírito deequipe em uma empresa”, sugere.
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