Empresas antecipam negociação de dívida
A possibilidade de piora da saúde financeira das companhias neste ano, em meio ao aumento da Selic e à deterioração das expectativas para juros e inflação, tem levado mais empresas a negociar com credores.
No mercado de crédito privado, é crescente o número de emissores que convocam assembleias para pedir o chamado perdão prévio (“waiver prévio”), que ocorre quando a empresa teme não conseguir cumprir os termos combinados no momento da emissão da dívida e negocia a possibilidade de ficar livre de certas obrigações por um período.
Os investidores acenderam o alerta para o potencial impacto nos balanços das emissoras de dívidas a partir de setembro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu retomar o ciclo de alta dos juros. Em dezembro, a piora das expectativas para o cenário fiscal aumentou ainda mais as preocupações.
E a expectativa no mercado é que o colegiado eleve a Selic em 1 ponto percentual nesta semana, para 13,25% ao ano.
Com o ambiente mais difícil, empresas que estavam com estruturas mais alavancadas não terão como escapar das negociações, diz Fábio Coelho, presidente da Associação dos Investidores no Mercado de Capitais (Amec). Do lado dos investidores, diz, “negociar é o caminho pra continuar enxergando valor na empresa”.
É a qualidade da negociação, porém, que vai ditar se o credor seguirá ou não apostando na companhia, afirma. Coelho lembra que em meio à crise de crédito de 2023 muitos investidores relataram que empresas que, até então, mantinham um bom relacionamento com os credores se fecharam para as conversas.
O esperado para este ano é que até quem não enfrenta risco de quebra procure mais os investidores. Isso porque movimentações comuns em períodos econômicos difíceis – como venda de ativos, combinação de negócios ou contratação de novas dívidas – exigem autorização em muitos casos.
Discussões sobre ampliação do prazo de vencimento de dívidas devem surgir com frequência também.
— Valor